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Jaffna

Jaffna (por vezes Jafanapatão nas fontes portuguesas) era, de par com Kotte e Kandy, um dos três reinos em que se dividia o Ceilão ao tempo da presença portuguesa na ilha. Situado na parte norte da ilha, era o mais pequeno de todos (cerca de 8000 km2), o mais pobre, mas também aquele que apresentava uma identidade mais diferenciada em termos étnicos, religiosos e linguísticos. A sua população era maioritariamente de etnia tâmil, provavelmente com origem remota no sul da Índia, falava o tâmul e professava o hinduísmo. O sistema fiscal, os direitos de propriedade e o regime de terras apresentavam também várias diferenças relativamente aos que vigoravam nos reinos cingaleses da ilha. Os portugueses já levavam mais de 20 anos de domínio político formal e efectivo no Ceilão quando finalmente, em 1619, conquistaram e incorporam Jaffna na soberania portuguesa. Tal aconteceu durante o governo do capitão-geral Sá de Noronha, na sequência da expedição militar liderada pelo capitão Filipe de Oliveira. A conquista de Jaffna, além de fazer parte da estratégia geral de domínio político sobre a totalidade da ilha, visava mais especificamente conter o avanço das forças de Kandy naquela área, controlar o estratégico Estreito de Palk, situado entre o Ceilão e a costa indiana, e explorar os principais recursos económicos daquele reino – pérolas e elefantes. De resto, Jaffna não tinha especiarias e os seus rendimentos agrícolas, fundiários e fiscais eram relativamente escassos. Ainda assim, foi objecto de um levantamento cadastral (o tombo de Jaffna, 1645), e nele se procedeu, tal como no resto da ilha sob domínio português, ao aforamento de terras e aldeias a casados portugueses. Um dos seus capitães-mores, Lançarote de Seixas, chegou mesmo a projectar um ambicioso plano de colonização maciça de Jaffna, todavia nunca concretizado, entre outras razões, porque os escassos recursos naturais e os baixos níveis de rendimento da região a tornavam pouco atractiva. Mais sucesso teve o projecto de evangelização, que se traduziria numa taxa muito elevada de conversão da população nativa ao cristianismo, ainda que mais por conveniência do que por convicção. Jaffna foi palco de algumas importantes rebeliões contra o domínio português. No entanto, viria a constituir o seu último reduto no Ceilão, só sendo conquistada pelos holandeses em 1658, dois anos após a queda de Colombo. [A: José Vicente Serrão, 2015]

Bibliografia: Abeyasinghe 1986; Flores 2001; Pieris 1920.
doi: 10.15847/cehc.edittip.2015v030